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Curiosidades Sobre o Rio - Parte 2

O Rio possui diversos museus para todos os gostos, desde arte moderna até os estilos mais tradicionais. Boa parte dos museus ocupam edifícios que não foram criados originalmente para serem museus, mas eram utilizados por famílias da alta sociedade carioca, políticos, e até outras repartições públicas ou privadas em períodos diferentes da história. Hoje vamos ver algumas dessas histórias curiosas.


Museu Nacional


Ainda abalados pelo incêndio de 02 de setembro que consumiu uma parte da história mundial, a história do palácio é maior do que o incêndio, e até maior do que os 200 anos do museu completados esse ano.


A área da quinta da Boa Vista fazia parte do território dos jesuítas até a expulsão desse grupo pelo Marquês de Pombal em 1759, nesse ano as terras foram divididas e essa quinta (forma portuguesa de chamar as propriedades rurais) foi comprada no início do século XIX por um traficante de pessoas escravizadas chamado Elias Antônio Lopes que constrói um casarão de dois andares no alto de um morrete de onde podia ter uma boa vista para a Baía de Guanabara, daí vem o nome do bairro.


Em 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Rio, Elias Antônio Lopes cede a sua propriedade para ser a residência oficial do principe regente Dom João e seus familiares (a rainha não habitava na quinta pois ficaria no antigo convento do Carmo na praça XV). A casa da quinta era conhecida como a melhor casa da colônia. Em 1810 o príncipe regente Dom João manda construir uma nova ala (torre à direita olhando o prédio de frente) e adiciona um 2º andar. Sabemos que durante o primeiro império Dom Pedro I fez acrescimos e construiu a segunda torre e iniciou a construção do 3º pavimento, além de mudar o nome do edifício para Paço Imperial (paço significa residência destinada à realeza), no segundo reinado o edifício ganhou as feições que mantém até hoje.


Centro Cultural do Paço Imperial


Assim que chegaram no Rio de Janeiro, os integrantes da Família Real Portuguesa foram acomodados em uma das maiores construções civis do período colonial brasileiro, um imponente edifício na praça mais importante do Rio de Janeiro na época, a Praça do Carmo, atual Praça XV de Novembro, em frente ao porto e ao lado da casa de câmara e cadeia (onde hoje é o prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).


Em 1733 o Conde de Bobadela solicita uma autorização ao rei Dom João V (bisavó de Dom Pedro I) para construir um palácio para o governo no Rio, apesar de autorizada, a obra só começa em 1738, com o traço de José Fernandes Pinto Alpoim (mesmo engenheiro do Arco do Teles, partes do Mosteiro de São Bento e dos Arcos da Lapa) e após inaugurado, foi chamado de Palácio dos Governadores, lembrando que nessa época a sede da Coroa no Brasil, chamada vice-reino, ficava em Salvador na Bahia, quando a sede foi transferida para o Rio em 1763, o palácio passa a se chamar Palácio dos Vice-Reis.


Em 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil, foi a primeira residência de todos os membros e rebatizado de Paço Real. Nessa época foi construído um passadiço entre o paço e o prédio do Convento do Carmo onde residia a Rainha Dona Maria I, conhecida como Dona Maria "A Louca" devido à uma doença mental não diagnosticada que levou à regência do seu filho Dom João VI. O Paço foi ampliado e recebeu uma Sala do Trono, onde acontecia diariamente a cerimônia do Beija-mão. Em 1816 Dom João VI foi aclamado Rei de Portugal e Algarves em uma construção anexa ao paço conhecida como "varanda", sendo o único monarca europeu coroado em outro continente, essa "varanda" ainda veria a coroação de Dom Pedro I e Dom Pedro II.


Durante o Primeiro e Segundo Reinado o Paço (já rebatizado novamente como Paço Imperial) passou por reformas e ampliações, e foi sede de momentos importantes da história brasileira como o Dia do Fico e a assinatura da Lei Áurea.


Já no período republicano, o prédio passa a ser Sede dos Correios, nesse período a fachada foi bastante alterada, a decoração do interior foi totalmente retirada, as obras deram ao edifício um terceiro andar completo, diferente do perfil atual, até um prédio inteiro foi construído no seu pátio interno, até que em 1982 começaram as obras para devolver ao prédio as feições que possuía em 1818, como está até hoje.


Museu da Limpeza Urbana


Dificilmente você já ouviu falar desse museu, infelizmente, mas ele também é conhecido como Casa de Banhos de Dom João VI justamente devido à sua história. Sei que parece difícil de acreditar, mas na região do bairro do Caju havia o que já foi considerada uma das mais belas praias do Rio de Janeiro com areias finas e brancas, onde era possível ver cardumes de peixes variados, cavalos marinhos e até mesmo baleias!


Esse edifício era propriedade de um comerciante de café e passou a ser utilizado pela Família Real quando Dom João VI foi picado por um animal e acabou tendo uma inflamação na ferida. Por recomendação médica, o monarca deveria molhar a ferida com água do mar, mas como não era muito chegado em água, foi criado uma espécie de barril de vestir, em que ele só precisava molhar as pernas, mantendo-se livre da "incômoda" sensação do toque molhado. Tão logo se viu curado, nunca mais retornou à residência que passara a se chamar Chácara Imperial Quinta do Caju, mas ficou conhecida para sempre como Casa de Banhos de Dom João VI.


O prédio foi tombado pelo IPHAN em 1938, mas ficou abandonado por anos, tendo sido inclusive invadido por algumas famílias ao longo do século XX, até que no final do século, em 1996, foi reformado (pela segunda vez em 10 anos) transformando-se em Museu da Limpeza Urbana.


Casa França-Brasil


Ao chegar no Brasil em 1808, a Família Real sentiu uma enorme diferença em relação à Corte. O Rio de Janeiro era uma cidade considerada atrasada, já que por ordem de lei, muitos dos avanços experimentados na Europa há anos eram proibidos na colônia, até mesmo os desenvolvimentos artisticos chegavam bastante atrasados ao Brasil.


Em 1815, com a primeira prisão de Napoleão, acaba o período das Invasões ou Guerras Napoleônicas, um ano depois, em 1816, o já Rei Dom João VI manda vir da França uma leva de grandes artistas que procuravam sair da França por temerem represálias por serem muito ligados com Napoleão, a chegada desses artistas encerra o período conhecido como colonial no Brasil, e inicia na cultura brasileira o período neoclássico com cerca de 60 anos de atraso. Alguns desses artistas ajudaram a fazer um registro histórico da forma de viver do povo brasileiro, em especial da população carioca como os pintores Jean Baptiste Debret, o grande nome da pintura na excursão, Nicolas-Antoine Taunay, e seu filho Féliz Taunay (moravam numa casa ao lado da cascatinha que recebeu o sobrenome de ambos Taunay na Floresta da Tijuca) o escultor, Zéphyrin Ferrez, pai de um dos maiores fotógrafos históricos do Rio de Janeiro entre os séculos XIX e início do XX, Marc Ferrez.


Mas o artista mais importante na arquitetura e engenharia era Grandjean de Montigny, responsável por iniciar uma nova era na arquitetura brasileira. A sua obra mais importante no Rio de Janeiro foi a construção do prédio da Academia Imperial de Belas Artes, que seria berço de artistas como Almeida Junior, Pedro Américo e Victor Meirelles. O prédio foi demolido em 1938 e sobrou nos nossos tempos apenas a fachada da entrada principal, hoje no Jardim Botânico do Rio. Atualmente a obra de maior expressão de Grandjean de Montigny ainda de pé é sem dúvida a antiga Praça do Comércio do Rio, construída entre 1819 e 1820, era onde chegavam os navios ao Rio e onde se realizavam as vendas de mercadorias. Com a independência do Brasil, Dom Pedro I transforma o edifício em alfândega que funciona até a época repúblicana encerrando a operação em 1944. Entre 1956 e 1978 foi a sede do II Tribunal do Juri e em 1984 o professor Darcy Ribeiro inicia um processo de restauração às linhas originais de Grandjean de Montigny que encontramos hoje novamente.


Museu Histórico Nacional


O Rio de Janeiro mudou muito ao longo dos seus mais de 450 anos de história. Uma das maiores mudanças aconteceu ao longo da sua costa já que era cheio de sacos, pequenas praias e costões que foram desaparecendo ao passo em que a cidade ia crescendo e criando aterros. Uma dessas áreas aterradas era a antiga Ponta do Calabouço, uma ponta de pedras e terra que avançava sobre o mar e dividia a Praia de Santa Luzia e a de Piaçaba, essa parte da cidade ficava aos pés do Morro do Castelo, berço histórico do Rio de Janeiro e devido à sua localização estratégica foi escolhida pelos portugueses para a construção da Fortaleza de Santiago (ou São Tiago) ainda no início do século XVII, em 1603. Foram adicionadas outras construções à fortaleza original como a Prisão do Calabouço, a Casa do Trem, Arsenal de Guerra e o Quartel todos criados entre os séculos XVII, XVIII e XIX.


Em 1920 a área do Castelo foi escolhida como sede da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil, e o conjunto, que já não era mais militar desde 1908, foi utilizado como "Palácio das Grandes Indústrias", quando ganhou o as interferências arquitetônicas finais que levaram ao seu desenho atual. Em 1922, após o encerramento da exposição, foi criado o Museu Histórico Nacional, um dos mais importantes do Brasil com mais de 258 mil itens


Casa da Marquesa de Santos / Museu da Moda Brasileira


Apesar de estar fechado para obras atualmente, a futura sede do Museu da Moda Brasileira já serviu como Museu do Primeiro Reinado, antes como residência para a aristocracia carioca, sendo Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, a sua mais ilustre moradora.


A casa possuía feições muito mais modestas do que ostenta hoje antes de ser adquirida por Dom Pedro I em 1827, assim que compra a casa, Pedro manda fazerem reformas que levaram ao perfil neoclássico que possui hoje em dia. Encerradas as reformas, Pedro dá a casa de presente a sua amante Domitila de Castro por ser próximo do Paço de São Cristóvão, residência oficial. A Marquesa vive na casa por pouco mais de 3 anos quando é "convidada a se retirar da corte" por Dom Pedro I que via na sua permanência na corte a sua dificuldade em arranjar um casamento com as princesas europeias.


A casa ainda foi moradia de outros ilustres personagens como a filha de Dom Pedro I Dona Maria que seria no futuro Rainha de Portugal, e também do Barão de Mauá.


Atualmente o prédio está fechado para obras de adequação e para a construção do futuro Museu da Moda Brasileira, podendo ser admirada somente a sua linda fachada.

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