O Grande Mestre da Arte do Rio de Janeiro
Mineiro, filho de pai branco e mãe negra, Entalhador, escultor e arquiteto, responsável por criar uma parte da história de uma importante cidade brasileira e um dos maiores personagens brasileiros na arte colonial, responsável por esculturas e igrejas lindíssimas. Falando dessa forma, parece que é o famoso Aleijadinho não é mesmo? Mas na verdade o dono dessa descrição é outra pessoa.
Nascido em 1745 na cidade de Serro a cerca de 230 km de Belo Horizonte, Valentim da Fonseca e Silva, filho do português Manoel da Fonseca Silva, contratador de diamantes e da brasileira Amatilde da Fonseca, ex-escrava, é o dono da descrição acima.
Poucos anos após o nascimento de Valentim, toda a família se muda para Portugal, estima-se que durante o tempo na Europa Valentim tenha aprendido o oficio de entalhador. ele e sua mãe permanecem na Corte até a morte do pai Manoel, retornando ao Brasil por volta de 1770 e estabelecendo-se não em Minas, mas no Rio de Janeiro.
Mestre Valentim morreu em 1813 no Rio, e foi enterrado em uma das igrejas em que trabalhou no altar-mor, a igreja da Imperial Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, da qual era membro, e que fica localizada na rua Uruguaiana.
O Rio de Janeiro era a cidade mais importante da época e sede da colônia, e fora a Coroa, a Igreja Católica era a maior força dentro do território brasileiro,por isso, a maior parte das obras realizadas por Mestre Valentim é sacra. Altares, portadas, talhas de capelas e igrejas e ornatos, entre outros, são o grande legado deixado por esse Mestre da arte brasileira.
Destacam-se nesse contexto os trabalhos feitos no altar-mor (altar principal) da igreja da Ordem Terceira do Carmo, onde também ficou responsável por todo o ornamento da capela do noviciado, considerada sua obra prima, altar-mor da igreja de Santa Cruz dos Militares, onde também fica responsável por criar as imagens originais em madeira dos 4 evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João) que ficavam na fachada (face) principal, ambas as igrejas ficam na rua Primeiro de Março. Outro trabalho que se destaca é o altar-mor da igreja de São Francisco de Paula, no largo de mesmo nome, que é considerada uma das mais belas igrejas da cidade.
Ainda para a Igreja, ele é responsável por criar o chafariz chamado de saracura devido às aves que possuía e de onde saía a água. Esse chafariz ficava no interior do Convento da Ajuda que estava onde hoje é a Praça Marechal Floriano Peixoto na Cinelândia. Somente as religiosas que residiam no convento viram esse chafariz por mais de 100 anos, até que em 1911 o convento foi demolido e o chafariz transferido para a Praça General Osório em Ipanema, onde está até hoje.
Valentim se diferenciava do seu conterrâneo mineiro Aleijadinho por ter trabalhado com metal, sendo um dos responsáveis por introduzir a metalurgia na arte brasileira. O lampadário da Igreja de Nossa Senhora de Montserrat no complexo do mosteiro de São Bento é um ótimo exemplo. Outra diferença entre os Mestres é a atuação de Valentim em obras civis.
Entre as obras civis, o maior destaque vai para o traçado original do Passeio Público (o desenho atual é uma modificação feita no século XIX pelo francês Auguste Glaziou), onde encontramos a Fonte dos Amores, simbólica pelos Jacarés de metal.
Por falar em fontes, tem outras duas ligadas a Valentim, que vale a pena mencionar. O chafariz na Praça XV que era beira mar(!) se destaca pela parte superior em forma de pirâmide, e o chafariz do lagarto, que mesmo ficando ao lado de um dos lugares mais conhecidos da cidade, o Sambódromo, é completamente desconhecido da maior parte da população. É um chafariz simples, sem detalhes na fachada, mas ganha a simpatia pelo seu pequeno lagarto também de metal.
O mais importante de todos os chafarizes construídos pelo Mestre, não existe mais. O Chafariz das Marrecas, que se chamava assim graças às pequenas estátuas metálicas de marrecas por onde jorrava água, e que ficava no final da pequena Rua das Marrecas, que liga a Evaristo da Veiga e o Passeio Público e que na época se chamava Belas Noites. Desse chafariz, demolido no final do Século XIX, chegaram ao nosso tempo as estátuas de Narciso e da ninfa Eco, que hoje estão em um espaço dedicado ao escultor no Jardim Botânico.
Valentim escreveu seu nome na história carioca com diversas obras importantes e que impressionam até hoje cada um que tem contato com elas, mas é difícil encontrar um carioca que conheça a história desse artista incrível. E você, já conhecia o Mestre Valentim? Quantos desses lugares você conhece?